RASTROS
A língua de fogo
Do crepúsculo, lambe
O dia terminal e ferido
Na pira olímpica do céu
Sua majestade, o sol
Apaga-se lentamente
O opaco da luz sumida
Faz a realidade pintar-se
De cobre, tristeza e silencio
A linha do horizonte,
Indefinida, esgarça-se
Para ainda ser reconhecida
A escuridão avança
Como se fosse uma cobra
Engolindo o que resta da luz
Atrás de mim, bem atrás de mim
Há um rastro que me segue
Na areia branca, apenas um
Há o vento desuniforme
E quente a desmantelar
Meus cabelos
O cenário desolado confirma
Que não basta um homem só
Para se ter solidão
É preciso muito mais,
Deveras, deve haver
Uma alma triste nas coisas
Eu tenho uma comigo
Carrego-a como um nó no peito
Que nunca se desfaz
Felizmente tenho tbém um coração
Este doido nonsense
Que ainda vê o que não existe
O dia terminal, morto como eu
Ao contrário de mim, ainda vive
Ainda sonha, ainda resiste!