RASTROS

A língua de fogo

Do crepúsculo, lambe

O dia terminal e ferido

Na pira olímpica do céu

Sua majestade, o sol

Apaga-se lentamente

O opaco da luz sumida

Faz a realidade pintar-se

De cobre, tristeza e silencio

A linha do horizonte,

Indefinida, esgarça-se

Para ainda ser reconhecida

A escuridão avança

Como se fosse uma cobra

Engolindo o que resta da luz

Atrás de mim, bem atrás de mim

Há um rastro que me segue

Na areia branca, apenas um

Há o vento desuniforme

E quente a desmantelar

Meus cabelos

O cenário desolado confirma

Que não basta um homem só

Para se ter solidão

É preciso muito mais,

Deveras, deve haver

Uma alma triste nas coisas

Eu tenho uma comigo

Carrego-a como um nó no peito

Que nunca se desfaz

Felizmente tenho tbém um coração

Este doido nonsense

Que ainda vê o que não existe

O dia terminal, morto como eu

Ao contrário de mim, ainda vive

Ainda sonha, ainda resiste!

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 24/11/2012
Reeditado em 24/09/2023
Código do texto: T4002330
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