Tudo muda

Tudo muda com os ventos dos novos tempos,

toda a gratidão transforma-se em desejos de retorno,

toda a benção desaparece no desespero da escuridão,

tendo somente o bastante para sobreviver à dor,

sem analgésicos para a alma segue-se testando os limites,

todas as verdades caem por terra se as mentiras são mais belas,

não há perdões em cristianismos cínicos que ecoam sem valor,

todos apenas se preocupam com o que podem perder,

tudo muda como as músicas de temporadas em estações de rádio,

todos os sorrisos vertem-se em lágrimas apagadas na multidão,

segundos de lembranças esquecidos ao sabor de um dry martini,

todos os amores que se perdem em distanciamentos evolutivos,

todas as amizades que estampam fotografias amareladas na estante,

silenciosamente sussurros ecoam: deixe ir, já se sofreu o bastante!

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Tudo muda com as chuvas de verão que não lavam as tristezas,

todas as esperanças escoam pelos ralos urbanos da solidão,

toda a imaginação congela-se em ações aprisionadas em concreto,

tendo somente a melancolia como armadura desnuda de um corpo frágil,

sem armas, sem escudos, ruma-se para guerras sem vitórias,

todas as promessas feitas ao luar de um cenário desmontado,

não há aplausos para dramas fracassados em um teatro abandonado,

todos estão mais preocupados com seus egoísmos consumistas,

tudo muda com o passar dos dias em um calendário de outonos eternos,

todas as folhas caem sem renovação de uma secura interior,

expressão de uma arte pintada sobre o cimento da insensibilidade,

todos os sonhos diluem-se na soda caustica que corrói os sentimentos,

todos os planos perdem-se nos desvios de rotas sem geo-referência,

silenciosamente sussurros ecoam: deixe ir tudo isto, já não há mais volta!