Líquida
Os olhos vazam
O que transbordam no coração
São palavras úmidas
Súplicas silenciosas
Rezas indecifráveis
Deuses inimagináveis
A galáxia de dores
concreta e abstraída pelo ambiente
Condensa-se finalmente.
Derramando pela face
Desenhando sua identidade.
O olho que chora
Não enxerga mais que o embaçado
Cores e formas se transformam em borrões
Disformes também são os sentidos
Agudos, inconstantes e escorregadiços.
No ralo da consciência
Está latente a humanidade que ainda espreita
Alguma solidariedade
Ser igual no mundo desigual.
Ser desigual no mundo tão igual.
Ser a diferença entre tantas diversidades
Perdidas no abismo egoísta.
Do indivíduo sem átomo e sem interesse.
Deixar de ser humano.
Deixar de sentir.
Embotar.
Deixar de expressar
E pelo paradoxo da dor
Enrijecer faces, condutas e veias
E, enfim, a vida.
Que finalmente monolítica
Quebra como um cristal.
Que hoje é sólido e ontem foi líquida.