Líquida

Os olhos vazam

O que transbordam no coração

São palavras úmidas

Súplicas silenciosas

Rezas indecifráveis

Deuses inimagináveis

A galáxia de dores

concreta e abstraída pelo ambiente

Condensa-se finalmente.

Derramando pela face

Desenhando sua identidade.

O olho que chora

Não enxerga mais que o embaçado

Cores e formas se transformam em borrões

Disformes também são os sentidos

Agudos, inconstantes e escorregadiços.

No ralo da consciência

Está latente a humanidade que ainda espreita

Alguma solidariedade

Ser igual no mundo desigual.

Ser desigual no mundo tão igual.

Ser a diferença entre tantas diversidades

Perdidas no abismo egoísta.

Do indivíduo sem átomo e sem interesse.

Deixar de ser humano.

Deixar de sentir.

Embotar.

Deixar de expressar

E pelo paradoxo da dor

Enrijecer faces, condutas e veias

E, enfim, a vida.

Que finalmente monolítica

Quebra como um cristal.

Que hoje é sólido e ontem foi líquida.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 20/11/2012
Código do texto: T3995434
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