Ausência
Eu queria cantar, mas a madrugada ensurdeceu
Quero ouvir tua voz, mas você já adormeceu
Preciso te ver, mas você está distante
Sinto a tua falta a cada instante...
Tudo é um vazio tão grande que se resume a nada
E o nada – tão logo tudo que me resta – se resume à madrugada
Assim que teu perfume discreto consegue inundar o meu quarto
Escorrendo nas paredes frias me aguçando o olfato
É fato que você não está e mesmo assim é presente
Presente de grego, mata meus sonhos e tortura meu inconsciente
Conscientemente corta minha consciência sagaz
Que tenta sem êxito ser que tua presença astral mais tenaz
Rosa vermelha de sangue és tu linda mulher!
Que desde menina amo e sou amado por...
Pôr do sol, chuva, faz tempo, muito tempo
Confesso que amei tudo, mesmo que tenham sido palavras ao vento
Fico triste, sou triste, tudo fica triste sem você aqui
Amei e amo desesperadamente teus olhos de fada
Enfada calada a embandeirada dos sonhos mortos
E como Nero em Roma, deixa meu dilacerado coração em destroços
Não és bruxa, és uma doce fada!
E tuas roupas brancas mancharam na lama de um sentir grotesco
Perdoe-me pela túnica manchada...
Mas dai-me tua pequena mão a levantar-me do tropeço
Como uma mãe acolhe um filho aflito, aceite-me em teus braços
Prometo que se quiseres, deixo minha paz e vou-me embora
Muito embora saiba profundamente dos cruéis embaraços
Que nos torturarão por todas as noites afora
Fora toda a água e leite que ainda vamos chorar o derrame!