decifrando o tempo
decifrei tua palavra
ao pé do som
estranho da dor
decifrei teu gemido
e jamais entendi dor alguma
o padecer inexplicável...
cefaléia, dispnéia...
falta céu,
falta ar,
falta teto... e tudo parece completamente
azul-cianótico
tua mão ensaiou um adeus
e eu que não tenho nada
perdi o pudor,
o fatídico rubror das faces
e só me sobrou perplexidade
o abandono ou o encontro
eram coincidências meramente
geográficas e não subjetivas...
mon cher, adieu
vou me embora, se voltar
não serei eu que volta,
mas o que voltou de mim depois de
meus redemoinhos...
por isto a chegada,
é sempre nova chegada
e partir é infinitamente
reticente, é se despedir
do agora, do ser e da alma
que volta jamais a ser o que era
depois de experimentar o sofrer
de cada manhã,
o chorar de cada orvalho,
e os rubrores do entardecer...
e ainda ousar brilhar sob as trevas
noturnas
ouvindo um noturno de Chopin...
acredite:
somos sempre novos à cada velha estrada
da vida