decifrando o tempo

decifrei tua palavra

ao pé do som

estranho da dor

decifrei teu gemido

e jamais entendi dor alguma

o padecer inexplicável...

cefaléia, dispnéia...

falta céu,

falta ar,

falta teto... e tudo parece completamente

azul-cianótico

tua mão ensaiou um adeus

e eu que não tenho nada

perdi o pudor,

o fatídico rubror das faces

e só me sobrou perplexidade

o abandono ou o encontro

eram coincidências meramente

geográficas e não subjetivas...

mon cher, adieu

vou me embora, se voltar

não serei eu que volta,

mas o que voltou de mim depois de

meus redemoinhos...

por isto a chegada,

é sempre nova chegada

e partir é infinitamente

reticente, é se despedir

do agora, do ser e da alma

que volta jamais a ser o que era

depois de experimentar o sofrer

de cada manhã,

o chorar de cada orvalho,

e os rubrores do entardecer...

e ainda ousar brilhar sob as trevas

noturnas

ouvindo um noturno de Chopin...

acredite:

somos sempre novos à cada velha estrada

da vida

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 28/02/2007
Código do texto: T396835
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