Animosidade
Animosidade
Eu tinha uma ideia pra nós dois,
mas trataste de comê-la
degustá-la inteira e toda ela,
regozijado naquilo que se revela
a mais bela das ideias
num sorver do pensar.
És abutre e impacienta-me
com as atitudes de quem desilude
por gosto próprio e amiúde.
Não deixou nada respingado
nenhum farelinho moído
nada caído desgastado.
Infinito dum nada massacrado.
Acabou com o meu gosto
de sonhar e de acordar
dum gozo exacerbado
partilhado nas brilhantezas das entregas.
De tu, apenas meus “quem-me-deras”.
Tu me fazes apenas abrigo úmido
pra refrescar, pra esquentar.
Teu gelo me arde na saudade
quando te emaranhas em mim
e por toda parte,
derrete e me escorre de vontade.
És o delírio encantado da animosidade.