Centelhas de luz
E procuro eu mantê-los ao chão
Os meus pés viajantes tolos.
E trago-os sempre descalços...
Trôpegos sobre o colo gentil da Mãe Terra.
E banho-os eu
Do cansaço que é viver
Nas generosas lágrimas tuas, Mãe Terra...
Águas de riachinhos e chuva fresca.
E tenho andado a coser uma âncora e correntinha...
Com os cascalhos que encontro eu
Misturados aos dourados raios de sol meus
E coso aos retalhinhos velhos - vida minha
E enfeitarei os meus pés-barquinho!
Que gosta de calmaria
E do silêncio do mar.
E de estar sempre à deriva...
Do não saber donde vem
O tapa ingrato ou o beijo que cura.
Do estar certo de que não quer ele chegar
A lugar nenhum, nenhum.
Então mantenho eu a cabeça
E os pensamentos todos
Pertinho do vento brincalhão... ao alto!
Que sopra e balança as nuvens gordinhas!
Que contam-me histórias e fazem-me sorrir!
E deito-me a cabeça no colo da lua...
Lua enganadora dos infernos meus.
E sou quase criança e acredito em tudo...
E passo eu a aceitar tudo... límpida...
Tal as lágrimas riachinhos e chuvas
Da doce Mãe Terra minha.
Posso eu ainda beijar e tocar as estrelas!
E enfeitar, com elas, os meus cabelos!
E enfeitar, com elas, o meu olhar!
E posso ainda comê-las!
E chorar centelhas de luz!
E iluminar...
Esse obscuro ser frágil e trépido de mim.
Karla Mello
23 de outubro de 2012