Pávidos

Chove lá fora, mas ainda vejo tua estrela no oriente

Sacudo a pesada capa encharcada e enrustido de sonhos

Perambulo de corpo e alma no deserto precedente

Do vale mais profundo de teus desejos medonhos

E as pedras na beira do caminho da cidadela?

Sentei nelas sentinela, e vigiei o amanhecer

A vida, vento, vertente viagem voraz vê-se dela

Meu, apenas resta o sórdido e prudente padecer

E as brumas revoadas em névoas pacíficas

Como vapores colores de todo espectro

Em tons quentes e frios trazem à tona místicas

O sensível reflexo de teu semblante ebúrneo

Alicerce fértil do meu sentir nefasto

Teus lábios carnudos revestidos de vermelho

Exaltando nobre a beleza única de teu corpo casto

Que seminu relembro do crânio ao artelho

Teus louros cabelos refletiam ante o céu oposto

Ao que agora negro e chuvoso me espreita o caminhar

Distante, cada vez mais distante do teu rosto

Que impede, frêmito, de qualquer verbo conjugar

Tuas carótidas salientes irmanadas a branca pele

Pulsavam no compasso dos rios da glória da canção

E teus dedos calejados arranhavam o aço de envelhecido fulgor

Gritando ao levantar épico, o desconcerto do amor

Já não sei se ainda quero, ou preciso caminhar

As lembranças me são um lugar quente e seguro

E, nos alforjes, tenho meu aço pra arranhar

Talvez, meu único amigo duradouro...

O vinho derramou pelo caminho, não precisamos de tal conforto

Preferimos sentir o dilacerar lento e canibal das noites frias

E encarar a sobriedade maléfica do sentir semimorto

Que nos arremessam pávidos na igualdade assombrosa dos dias!

Alex Fernando
Enviado por Alex Fernando em 23/10/2012
Código do texto: T3948824
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