Morremos
Morremos todos
Morremos como brancos,
Como negros, como seres livres ou escravos
Como homens, como mulheres,
como andróginos
Morremos.
A vida se esvai no passar do tempo
A vida escoa na ampulheta invisível
Mas inexorável.
Morremos.
E, depois vem o enterro,
o caixão, as flores, as homenagens
E finalmente a ironia...
Dos que sobreviventes a nos recordar
Como não estivéssemos mortos...
Falam de nós, discutem sobre nós, como pudéssemos responder,
Contra-argumentar...
Mas nossa presença agora é apenas silêncio,
Se espalha em reticências ditas
Em olhar cravado na cruz do cemitério.
Todos morremos.
Amados ou não.
Felizes ou não.
Satisfeitos ou imperfeitos,
Estelares ou umbrais...
Somos dotados de vida fugidia
De luz tênue que com o tempo se apaga
Somos cometa, átomo e metabolismo.
Somos números, fórmula e crescimento.
E depois, de tanto crescer
Em prol da finitude e da impenetrabilidade dos corpos.
Morremos.
Cedemos lugar para quem vem depois,
Cedemos espaço, fala, semântica
E dinâmica para os que chegarão...
Talvez percorram nossos mesmos passos
Mas será novidade para os incautos...
E, enfim, quando finalmente alguma sabedoria
nos visita...
Furtivamente, morremos.
Adeus,
e até amanhã em minhas memórias.