Aguas de Março

Sentado na varanda, olhei com olhos pueris.

O canto da cotovia, marulhando o mar que não via.

Voando, planando sobre o tremor do mormaço.

O abandono infiltrado nas rachaduras da terra,

Secando as arvores as águas de março.

Travei tristeza no peito, no chinelo de tira,

Catando, nos cantos dos olhos, o sereno do dia.

Secaram a canções, as rimas emboladas, a mentira,

O tremor dançava nos ossos com o vácuo que tardia

Peito seco de amor, que nem passarinho tísico.

Podia folhear as flores, mais não cantava o bico.

Mesmo amando em silencio aquele amor proibido,

Mais uma coisa eu tinha... meu amor seu moço,

Coisa que ninguém tira, como trilhado de tico-tico.