autismo
eu sou mesmo autista
e de alto de meu mundo
só enxergo eu
e a enorme solidão
que há nas intermináveis repetições
sou a lágrima que vem do nada
e cai imediatamente num vácuo das emoções
e sem sons, ruídos ou vaidades
deixa o corpo rijo e desidratado
eu sou autista
e no labor de arte
esculpo em pedra viva
a dor ausente,
o pressentimento
da finitude,
a arma, a alavanca,
o escudo e o temor a Deus
e, de repente,
de um silêncio rotundo,
do nada fez-se o instante
que me parecia uma eternidade
agonziante a contemplar
terra, fogo, ar e água
e quanta água...
há neste temporal
e na música da borrasca,
na cantiga tilintante
das águas percorrendo solos e pedras
me enlevava ao sono languido
e ao cheiro da terra que rondava
minha infância
e fecundava minha memória
com as raras recordações de menina