O mito de mim mesmo



 
Flores ocultas no solo árido,
Brotos aparentemente mortos.
O deserto tem oculto o poder do jardim.
Profecia: meu tempo não passará,
Estarei calado no alto de velha montanha.
Meus olhos verteram lágrimas e imagens.
Não serei mais ego, não serei eu mesmo.
Mas algo de mim estará em tudo.
Prece de silêncio,
Nem o nada, nem o todo,
Apenas um arquétipo senil,
Vigoroso em dúvidas,
Velho demais para ainda munir espada,
Exausto demais para assumir um cajado.
Então o que fazer?
Não terei pouso?
Não terei a paz?
E que paz é essa que tanto almejei,
Que nasceu de meu antigo anseio de liberdade?
Sou meu grande engano,
Ou minha perfeita noção de mim mesmo.
Não quero vozes, não quero pensamentos,
Quero apenas existir em paz.
Ou quem sabe, paz para existir.
Velha alma, não desprezo,
Não quero o desprezo.
Sei que tenho viva a vontade,
Mas já não bem a quero
Se devo querer.
Ou se somente sento-me,
Dobro-me sobre o próprio corpo,
Um perfil humano em vigor decadente.
Apenas deixo o tempo passar,
Querendo esquecer.
Mas não tendo terminada
A curiosidade de lembrar.
 
11/07/2012
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 01/09/2012
Reeditado em 14/01/2020
Código do texto: T3860367
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