O Náufrago
Ilha
Quero ser ilha
Vestir a solidão ensolarada da ilha
Nem perguntas
Nem respostas
Nem muito menos suposiçõs
Eu odeio as suposições
Gosto das certezas
Ser ilha dar-me-ia sempre a certeza
Do nada
E de que os pássaros
Não cantam para mim
E de que o sol levanta-se
Comigo ou sem mim
E que a chuva
Apenas faz o seu trabalho
Para a natureza
Não para mim.
E que essa água toda à minha volta
Faz também apenas o seu percurso
Estaria eu, então
Envolta em certezas
E silenciaria eu.
E contemplaria todas as certezas.
Ilha
Hoje sinto-me ilha
E não quero ser ponte
Estou cansada e apenas hoje.
Deixa-me vestir a solidão da ilha
E receber com gentileza
Os raios de sol na minha face
Enxuga-me, ó sol…
E à noite
Deixa-me contemplar a imensidão do céu
As estrelas e a minha irmã a lua
A banhar-me com sua luz de prata
E de certezas
De que nada sou.
E deixa-me assim…
Vestida com a solidão da ilha
Em silêncio
Sopra, vento e embala-me
Faz-me dormir para sempre – ilha.
Karla Mello
29 de Agosto de 2012