MINHA VIDA

Ninguém me lê, mas eu me leio

Ao menos possuo lealdade

Não puxo saco, que acho feio

Sigo anônimo na cidade

Antes de tentar ser poeta

Queria ser astro do rock

A vida mudou minha meta

Virei controlador de estoque

Depois surgiu uma garota

Engravidou de sacanagem

Fiz um casa de lajota

Fui ao cartório sem coragem

E eu envelheci de surpresa

Os sonhos ficaram pra trás

Toda noite janto na mesa

Vejo os jornais nacionais

Fiz muita besteira na vida

Mas hoje eu faria pior

Prefiro uma vida bandida

A uma tola história de amor

Hoje sei que Deus não existe

Foi tudo conversa fiada

Mas isto não me deixa triste

Porque prefiro mesmo o nada

E quando em meu leito de morte

Sob o olhar de minha mulher

Pois ela é mais santa e mais forte

Vou pedir pra ela me trazer

Aquela garrafa de vinho

Junto da minha antiga taça

E seu costumeiro carinho

Pedirei, meu amor, me abraça

E nem roqueiro e nem poeta

Restarão na fria sepultura

Onde os vermes não fazem dieta

Sem esperança ou amargura

De volta ao reino da matéria

Talvez alimente uma flor

Que não saberá da miséria

Do homem que um dia sonhou