O Último a Lembrar

Serei o último a lembrar

o tempo que a justiça do povo

tirou o tapete

e viu a sujeira

a sujeira que todos sabiam, mas ninguém

queria saber

a sujeira que iam limpar e não limparam

a sujeira que agora paira no ar novamente

a sujeira que virou pó mas ainda suja

quem se importará se eu esquecer

quem ainda poderá lembrar

se não lembram sequer

se quando lutaram

foi por justiça ou por pão

De que valem minhas memórias

que vale a tristeza do esquecimento

que vale a raiva da injustiça

se na memória do Brasil

só existe a alegria?

Um dia vou morrer

e nesse dia

terá o tempo

o tempo das minhas memórias

destroçado-me as lembranças

mas ainda assim vou lembrar

do crime que o tempo quer absolver

e a ingenuidade quer enterrar

(Um tributo meu ao julgamento do Mensalão)