Serpente ruiva
Andei revendo meus passos,
desfiando suas mentiras e contos inóspitos,
de caçador virei caça em seu enredo,
acreditei que sua vitalidade se esvaia,
preocupei-me em manter a vela acesa,
mas você serpenteou em torno da chama,
me enfeitiçou com seu sorriso cínico,
despertou minhas fraquezas com suas palavras falsas,
me conduziu ao abismo de onde pretendia lançar-me,
planejou seus detalhes sórdidos em frias manhãs,
até que recuperei a consciência de minha alma,
e libertei-me da prisão de sua teia,
atordoado perambulei pelas ruelas escuras,
como um tolo embriagado rolei pelas sarjetas,
tentando afastar dos meus olhos a luz que os feria,
somente as sombras protegiam minha existência ferida,
mas o tempo passou curando-me as mágoas,
os cortes cicatrizaram me mantendo mais vivo do que nunca,
hoje sua pessoa é apenas uma névoa na paisagem de outrora,
uma predadora de cujas armadilhas me mantenho afastado,
és mais de mim do que eu jamais fui de ti,
sabes mais de enganos e caminhos tortos do que eu,
mesmo sendo advogada e juíza de meus atos,
fostes irremediável em suas tentativas de subjugar-me,
mantendo a aparência de boa moça quase convenceu-me,
todavia, meus sentidos me alertaram e me salvaram a pele,
agora observo a vida agachado no mais alto galho de árvore,
desejando que algum dia não sejas mais do que alguém que eu conheci,
alguém perdido nas entranhas de uma memória com amnésia,
alguém cujo nome soe tão vago quanto promessas não cumpridas...