Por Detrás da Solidão
Ela se move por detrás da janela
Observando a multidão embaixo,
É como a sombra frágil da vela,
Soprado pelo vento vindo abaixo
Acendendo uma cigarrilha pensa
O amor um mero substantivo
Na metrópole de dimensão imensa
Basta morrer para estar vivo!
Ainda jovem refletia sua existência
Apagada como a luz queimada
Quis entender porque toda carência
Fazia-a se sentir-se tão rejeitada
A noite vinha frio como plácido verão
Na sua vida que era um mero recorte
Algumas colchas juntadas pela solidão
Retalhos jogados do existir sem sorte
Levantou-se e foi servir uma bebida
Para refrigerar tantas dores
Viu a sua imagem ao copo refletida
Somada a tristeza dos fatores
Percebia que todos eles multiplicados
Fizeram florescerem tantas dores,
Com seus neurônios tão atrofiados
Estamparam-se na face os horrores
Lembrou-se da infância tão feliz
Passeando pela chuva fraca,
A lágrima de adeus era o que quis
Ao cortar-se com afiada faca!
Riu-se com a sarcástica simpatia,
De quem brada uma despedida,
Por entre as suas mãos escorria,
A angústia enfadonha da vida
O sangue fluía com áspera delicadeza,
Golfando-lhe o traje vestido
Borrou-se a toalha branca à mesa
Em seu espírito frágil adoecido
Precisava respirar e sentir a brisa
Foi senti-la junto ao parapeito,
Enxugou sua dor na velha camisa
Apreciando um final perfeito
Pediu asas para poder enfim flutuar
Por entre as luzes altas e acesas,
Ao infinito além quisera esvoaçar
Vendo de cima minúsculas belezas
Eu ajoelhado frente sua cabeça,
Uma rosa, A esse rosto encaixo
Antes que o tempo lhe esqueça
Ela caiu e morreu lá embaixo!