Irmã Morfina

Entre os meus dedos amortalhados

Minha irmã me faz companhia,

Na seringa os teus traços azulados,

Verberam a risonha melancolia

No cabelo revolto a tua trança,

Vagueia nas ilusões enlanguescidas

Pela sombra uma silhueta dança

Nestas pálpebras tão adormecidas

Um mundo novo vem à frente

Por detrás das paredes as fissuras,

Passeando voláteis pela mente

Cantam poesias e pintam figuras!

Quando a noite me empalidece

Sob o vapor e suas névoas oriundas

Tenho a fome que se apetece,

Nas pupilas fúnebres e moribundas

Minha irmã por onde estará agora

Quero saciar-me da nostalgia,

Que escorre pela janela embora,

Doe-me as têmporas a agonia

Deleito-me e no prazer embriago

O amor que ao pincel respinga

Do velho uísque dou-lhe o trago

Amargo e gélido como a seringa

Que em meu incestuoso amor

Fartou-me essa dolorosa sina

De amar-te em plácido estertor

Minha amada irmã morfina!

opoetakurita
Enviado por opoetakurita em 12/08/2012
Código do texto: T3825947
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