NO ETERNO TRIBUNAL

Um dia

transformaram-me em rainha

que era estrela caída do céu

e eu cri que era rainha e estrela.

Eis que um destino estranho

marcou-me a testa

com nome desconhecido

e eu rainha e estrela

virei poeira e lama

e não poeira cósmica

e não lodo de que brote

flor-de-lótus.

Assim cheguei, assim parti

de todos os destinos

como aquela-que-não-é

como aquela-que-não-pode-deixar-de-ser

como aquela cujo rosto

guarda as marcas do ódio

que lhe ofertaram de graça

do ódio

que não fez por merecer

do crime

de que jamais se lembrará

que cometeu

como o personagem de Kafka

no seu tribunal.

No início da madrugada de 03 de agosto de 2012.