Ante-sala
Ante-sala
Estive morto, estive no inferno.
Não éra...
Éra-me a ante-sala, o inferno já o fôra...
Já fôram meus entes, meus dias, os anos.
Tenho presente nos olhos,
desfaçatez dos entes,
egoísmo nas alturas,
velhas sepulturas...
Vieram-me véus de encontro,
bateram meu rosto,
negros, multi-coloridos,
vi-me deitado,
de lado,
desamparado,
olhos molhados,
lembrei-me de mim...
Lembrei de meus cálculos,
devassos,
de meus passos certos,
quantos acertos,
quanta gente querida,
dei-lhes ferida,
feri-me também,
não fiz bem.
Acho que já morri,
foi quando nada vi,
num tempo já fosco,
e,
agora,
não sei o que será,
pouco adiantará,
contas de amores,
caridades ingenuas.
Pensei que tudo éra medo,
morrer,
para mais nada ter,
eu achava.
Nem sei onde estou,
não vejo horror,
tinha medo éra do horror,
não vejo nada...
Tenho-me perdido, é certo,
meu inferno é incerto,
ninguem me amealhou,
me requisitou,
não sei onde estou,
será a ante-sala ?
Quem virá agora ,
para me fazer hora ?
Para gozar minhas risadas,
de quanto vivi bem,
nesses segundos,
até chegar aqui,
em volta de meu tumulo,
no silencio de meu sepulcro.
Aqui, vivo bem.
Teobaldo Mesquita
teobaldomesquita@uol.com.br