A carta que falta
Pedras calculadas se evita,
Outras nos atingem alheias;
Coração ansioso se precipita,
Coloca tênis antes das meias;
Aí as veredas antes malditas,
Viram saborosas taças cheias;
Quem copia o que instinto dita,
Precisa apagar depois da ceia;
A carta que na manga dormita,
Faz das outras uma trama, teias;
A mesa só suporta, não arbitra,
Sempre quem joga, é que enleia;
Água suja não lava, apenas agita,
Mentira chama à nova, de cheia;
Mas, verdade é luz que orbita,
Chega a hora que o escuro clareia;
Novo amor não precisa de fita,
Inaugura quando alma anseia;
Desde que o amor-próprio reflita,
Que é hora de amar, vida alheia;
E rendido ao amor, enfim, admita,
Que a vida solo é apenas meia;
Senão, restará uma alma bonita,
Presa em circunstâncias feias...