Sonhos de Origami
eu queria te falar do meu amor
dos sonhos todos que semeei eu
nas noites nossas... becos tão estreitos
solidão mais que reluzente
à luz do nosso tão estranho amor
que surgiu como surgem todos os amores
do de repente das mesmas palavras sempre ditas
dos segredos e pecadinhos cúmplices
do acordar pensando e pulsando
na distância do toque e na quietude do encontro
na proximidade das almas e pensamentos.
eu queria te falar das minhas renúncias
dos laços que desatei ao partir em teu encontro
das lágrimas de saudades que plantei
e deixei para trás quando cri eu que poderia eu "existir"
do muito que te quis enlouquecidamente
da paz... eu nau e tu o meu porto
da escuridão minha na luz dos olhos teus
calmos... sempre com palavras de colo e eternidade
do meu olhar para trás ao ver de cima a minha "casa". E ir-me
do meu adeus a tudo e desbravei maldições todas
todas elas espalhadas sobre mim... e tantas falas e tantas pragas
e tantos julgamentos e exposição minha
sabes tu da coragem que tenho eu?
mas eu exponho-me sempre... eu escrevo, esqueces?
eu queria te falar das humilhações minhas
todas elas enquanto tu dormias o teu "sono" torpe
e das lágrimas que calei... e engoli o choro
apenas para ser levezinha a ti e te ver sorrir.
dos sonhos todos de papel dobradinhos em origami
e havia sim passarinhos e borboletas
pendurei-os todos no teto dos sonhos meus
e o arco-íris era o encontro dos nossos olhos
e o mundo poderia sim terminar ao encontrar-me eu em ti
ao repousar eu o meu cansaço sobre o teu repouso meu.
eu quero te falar da chuva minha... chove...
e que molha todos os meus origamis...
dobradinhos com tantos cuidados tolos
e que tu não cuidas, não cuidas...
e desfazem-se dias afora e não estás para perceber
eu queria te falar do teu toque que fazia-me sentir flor
regada de amores e farta de pólen... linda apenas a ti
desta mesma flor que pisas ao andares descuidado por aí
por entre as tuas coisas estranhas das quais não entendo eu
dos teus guardados e reservados que calas e nunca falas
dos sentimentos todos teus... exclusivamente teus.
és, então, incógnita à mim...
e pego-me olhando-te e tentando solucionar-te
e sinto eu a sensação da menina no ginásio de outrora
à frente de uma equação matemática que sempre soube eu não servir-me à nada.
eu sempre fui humana e nada exata...
e não acostumo-me com a tua exatidão para algumas coisas
e a tua complexidade à nossas vidas
outrora porto eras tu... hoje, nau perdido
e não sei onde reencontar a tua bússola
não... não está comigo.
comigo, o teu aconchego que não queres
o teu sorriso que também não queres
comigo a disposição de simplesmente estar sempre no mesmo lugar
na tua prateleira sentadinha e vestidinha tal as bonecas tolas
e nasci para tanto... para tão mais que isso...
eu penso, sinto, choro, repudio, peco, envergonho-me. E chove...
e chove tanto e não vejo ao perto uma marquise
e danço e canto na chuva e os meus origamis desfazem-se todos
tenho que dançar!
nuvens cobrem o arco-íris nosso e tu não as sopras para longe
e continua a chover e embaça-me a visão
gosto de tudo claro e de enxergar os abismos onde piso.
não... eu não vou refazer as dobrinhas dos meus origamis
esperarei sentadinha na tua prateleira empoeirada e de velhos pesadelos todos teus.
eles ficam sempre à minha volta e apertam-me
mas acenarei a ti de quando em vez...
quando sentir eu o desejo de ser tola
e estarei sempre a sorrir porque gosto de sorrisos
nem que seja à mim mesma... nem que seja de mim mesma.
nem que seja de todos os sonhos que esvaem-se... todos nossos.
eu sei... andas tão ocupado com os teus "ais"...
eu queria apenas te falar do meu amor.
Karla Mello
05 de Julho de 2012