Sobras
Ao invés de ficar com sua mão,
fiquei apenas com as luvas
Ao invés de ficar aos seus pés,
fiquei com os sapatos
Ao invés de ficar com sua voz e poesia,
fiquei apenas com os livros e escritos…
Ao invés de ficar com o amor,
restou-me a mera indiferença
Ao invés de ficar com a lembrança,
restou-me a reles amnésia
Ao invés de ficar ao seu lado,
escolhi a maior distância possível
Mas você se cercou de tudo que é meu
E continua a me pertencer por vias transversas
Maldizendo, vociferando e ferido como
O enjeitado que sempre fostes…
Como pássaro alvejado por atiradeira de moleque.
Nunca perguntaste nem intimamente:
o porquê do destino?
Se há lógica
no desalinho das ondas?
No descado do acaso
No desencontro de rotas e fugas
Nunca se apercebeste o que é cruel como sina.
E silencioso como monge?
Mas cumpre inexoravelmente a missão
De ser rejeitado, negligenciado e abandonado
E esquecido por aqueles que deveriam amá-lo.
Nunca questionasse a intrínseca poesia do ódio?
Do desdém a todo custo…
Do olhar alvo e seta
Do passo certo e incerto
Da mão tola e inestimável
A cumprimentar os conhecidos
A mirar o tempo e a janela
O caminho poético das pedras
E da expressão dos corpos e mãos
Que em paradoxo revelam sentidos opostos.
Adeus.
Saudades, mas adeus.