Sobras

Ao invés de ficar com sua mão,

fiquei apenas com as luvas

Ao invés de ficar aos seus pés,

fiquei com os sapatos

Ao invés de ficar com sua voz e poesia,

fiquei apenas com os livros e escritos…

Ao invés de ficar com o amor,

restou-me a mera indiferença

Ao invés de ficar com a lembrança,

restou-me a reles amnésia

Ao invés de ficar ao seu lado,

escolhi a maior distância possível

Mas você se cercou de tudo que é meu

E continua a me pertencer por vias transversas

Maldizendo, vociferando e ferido como

O enjeitado que sempre fostes…

Como pássaro alvejado por atiradeira de moleque.

Nunca perguntaste nem intimamente:

o porquê do destino?

Se há lógica

no desalinho das ondas?

No descado do acaso

No desencontro de rotas e fugas

Nunca se apercebeste o que é cruel como sina.

E silencioso como monge?

Mas cumpre inexoravelmente a missão

De ser rejeitado, negligenciado e abandonado

E esquecido por aqueles que deveriam amá-lo.

Nunca questionasse a intrínseca poesia do ódio?

Do desdém a todo custo…

Do olhar alvo e seta

Do passo certo e incerto

Da mão tola e inestimável

A cumprimentar os conhecidos

A mirar o tempo e a janela

O caminho poético das pedras

E da expressão dos corpos e mãos

Que em paradoxo revelam sentidos opostos.

Adeus.

Saudades, mas adeus.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 04/07/2012
Código do texto: T3759918
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