LAMENTOS DO VELHO MOINHO
Desfolhadas margaridas
fonte seca
olhos vagos!
Marejaram em vão
tais estrelas orvalhadas
engoliram-se soluços
penitentes
Descobertas as faces
agora pálidas
suspensos os véus da noite
madrugada canta
a música breve
da despedida...
Nenhum sol brilhará
alvoreceres ternos
em árvores sonolentas
Dançarinas folhas secas
requebram aos pés
Cantam ventos vagos
nos olhos fechados...
Fogem-me afagos
de mãos ausentes
Céu ultrajado
em cinzento hálito
espumas vãs!
Sibiliantes flechas
no voo das palavras
desse adeus
sussurro em eco...
Repentinas ondas alteiam-se
estendem-me as suas
mãos frias e pungentes
bebo o seu sal...
No voo da gaivota
alongo a minha esperança
aceno pra lá do horizonte
Os ventos me voam preces
os passos me roubam os pés
raia o dia nos meus cabelos
já é outro o canto
que me comove...
Apenas vou sem ir
apenas giro a roda
roda, giro, destino
lamentos do velho moinho!