Múltiplos
Eu só queria descobrir um caminho de volta,
voltar para minha infância, para minha inocência,
deixar para trás todos os erros cometidos,
esquecer de vez todas as mágoas da jornada,
mas quando olho no espelho só vejo meus múltiplos,
aqueles olhos azuis que dançam na escuridão,
o sorriso sarcástico que ironiza a tolice alheia,
um bom moço que tenta salvar a honra do mundo,
o galanteador que escreve poesias em folhas avulsas,
gestos no ar procurando afastar karmas negativos,
tatuando mil nomes em uma única certidão,
andando por entre lápides de vidas passadas,
atirando fotos 3x4 em uma lareira solitária,
não há uma saída da prisão que me abriga,
vivo uma verdade que parece mentira aos singulares...
.
Quando a caixa de pandora se abriu fui tragado pelo cosmo,
infinitas estrelas e planetas chocaram-se em meu interior,
cometas e asteroides me circundaram atraídos por imãs,
o que era um se tornou tantos dia após dia,
sensações de dor, perda, alegria, começo e fim,
ninguém poderia compreender essa sina que carrego,
olhando para meu reflexo no lago surgem meus múltiplos,
preciso então esconder-me em máscaras cronometradas,
considerando o tempo de cada experiência,
absorvendo melancolia e êxtase em cada passo,
observando minhas sombras dançando à luz do luar,
negando certezas de quem só crê em uma única direção,
sonhando repartir-me em autonomia e especificidades,
batendo com o solado de minhas botas na terra árida,
tento acordar para uma realidade estreita entre tantas almas...