A ÚLTIMA SONATA
Dançou com o vento a última sonata.
Cantou como se houvesse orquestra a lhe acompanhar,
e não se via nada.
Respirou como se não fosse obrigação,
Foi feliz como se não houvesse outra opção.
Chorou na chuva só para lavar o olhar,
Para colher as flores da próxima estação.
Atirou-se ao mar como se soubesse nadar
Citou seu amor nesse simples soneto
e sorriu para o acaso um riso abstrato e obsoleto,
Releu cada trecho por inúmeras vezes,
Endereçou,datou e apensou um perfume discreto.
Dançou o último bolero com o tempo.
Cantou como se houvesse platéia a lhe aplaudir.
Amou como se pela eternidade pudesse ficar.
Partiu como se soubesse para onde ir.
Acreditou como se não houvesse contratempo.
Despiu-se na ida de toda dor
Vestiu-se de vida e comemorou.
Dançou e cantou para seu mais novo amor.
Plantou as sementes que o vento sobrou,
ao som da última sonata que a orquestra tocou.