A ÚLTIMA SONATA

Dançou com o vento a última sonata.

Cantou como se houvesse orquestra a lhe acompanhar,

e não se via nada.

Respirou como se não fosse obrigação,

Foi feliz como se não houvesse outra opção.

Chorou na chuva só para lavar o olhar,

Para colher as flores da próxima estação.

Atirou-se ao mar como se soubesse nadar

Citou seu amor nesse simples soneto

e sorriu para o acaso um riso abstrato e obsoleto,

Releu cada trecho por inúmeras vezes,

Endereçou,datou e apensou um perfume discreto.

Dançou o último bolero com o tempo.

Cantou como se houvesse platéia a lhe aplaudir.

Amou como se pela eternidade pudesse ficar.

Partiu como se soubesse para onde ir.

Acreditou como se não houvesse contratempo.

Despiu-se na ida de toda dor

Vestiu-se de vida e comemorou.

Dançou e cantou para seu mais novo amor.

Plantou as sementes que o vento sobrou,

ao som da última sonata que a orquestra tocou.

Anna Lima
Enviado por Anna Lima em 12/06/2012
Reeditado em 05/11/2015
Código do texto: T3720397
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