Cupidos

Estamos sentados na beira de um terraço bebendo nossa solidão,

olhando pequenas pessoas transitando como formigas nas ruas,

observando os momentos em que seus olhares se cruzam,

aguardando acontecerem paixões à primeira vista,

estamos aqui para celebrar o amor alheio,

estamos aqui para saldar as dívidas passadas...

.

Paramos de pé sobre os andaimes da construção,

analisamos as probabilidades de uniões aleatórias,

jogamos xadrez com o destino de casais desconhecidos,

tocamos a música da paixão no momento da troca de energias,

investigamos os passos destoantes para afiná-los ao propósito,

estamos aqui para atuar invisíveis nesse teatro de luz e sombras...

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Agachamo-nos na varanda de um café sorvendo sensações,

identificamos os alvos de nosso trabalho diário de cupidos,

desviamos transeuntes de suas rotas para que se encontrem,

brincamos de divindades nesse universo paralelo de desejos mortais,

escolhemos os pares e as cores para vidas enamoradas,

enquanto o baile acontece assistimos do outro lado da rua...

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Caminhamos sem ser notados por dentre uma multidão cega,

seguimos nessa trilha sem asas ou flechas para nos orientar,

ajudamos cada beijo roubado se realizar na magia do dia,

incentivamos cada abraço com descargas elétricas de amor,

permanecemos presos à essa tarefa esperando o dia da libertação,

clamando pelo dia em que nossos corações serão devolvidos...