Na sombra da solidão

Sinto a solidão me abraçando novamente,

um desolador fim que se inicia sem explicações,

um reencontro com alguém que nunca se foi,

aquela sombra que sempre espreitou o tempo,

aquela sensação congelando o ponteiro do relógio,

o arrepio na espinha ao abrir de uma porta,

o vento gelado que adentra as vestes e bate ao peito,

a tristeza que se soma ao cômputo das dores adormecidas...

.

Na sombra da solidão não há palmeiras ou colinas,

há um barranco de onde se vê um profundo abismo,

ecos destoantes gritam meu nome sem erros,

como um corvo observa minhas reações em silêncio,

e agora se senta sem cerimônias à minha frente,

questiona o sorriso que ostentei durante um período,

debocha da fé que quase cheguei a possuir,

traduz a melancolia de um momento infinito em lágrimas...

.

Agouro de uma manhã cinzenta na solidão de meus pensamentos,

olho para trás sem encontrar um motivo que me desperte,

o formigamento do torpor me sobe os sentidos,

a escuridão se faz minha capa de tempestades e raios,

as memórias desmancham-se na brisa que sopra,

não há delicadeza apenas um assovio triste do fundo da alma,

aquele instante em que todo o significado se esvai,

e tudo o que fica é um canteiro vazio de sentimentos esquecidos...