Vazio.
Ela me sorria como ao ver o sol, ela me olhava e virava o olhar, ela esperava sentada ao lado da mesa que eu sempre sentava, ela me olhava enquanto eu olhava o tempo passar e então seguia meu curso, ela tinha um brilho tão lindo no olhar e uma boca muito sorridente. Mas ela queria de mim algo que eu jamais poderia dar, ela queria um abraço doce no inverno, um beijo apaixonado no verão, um homem ao seu lado quando fosse preciso, ela precisava de carinho e de amor, e eu nunca fui a pessoa certa.
Ela desejou o que somente eu era proíbido de dar...
Ela gostava de mim e me sorria seu sorriso mais puro porque não sabia quem eu era.
Pode parecer estranho eu saber, mas eu sei, ela sofreu, e eu não fiz nada, mas o que poderia fazer? Dar-lhe o que nunca foi meu? Um abraço falso ou uma amizade indesejada? Ou melhor, um coração de pedra preso a uma pequena corrente de prata para simbolizar tudo o que eu sentia, nada.
Nem mesmo ao ver a dor estampada em milhares de rostos, que me acusavam de ser eu, que em meus sonhos faziam questão de torná-los pesadelos e que por vezes pensei que uma dor dilacerava meu peito, mas era apenas o vácuo avisando que poderia aumentar.
Um modo de escapar, e nomiei tudo que conhecia como silêncio, calando assim a voz que me obrigava a olhar, a fingir, a acreditar... pode paracer absurdo, eu sei, mas não sejamos ingênuos, a vida pode ser muito mais assustadora para os que têm medo de apostar.
Eu conseguiria olhar, sorrir, falar, fingir por mais 10 ou 100 anos, mas seria cansativo, seria enjoativo, procurar coisas que não mais existem em mim.
E a última vez que a vi, ela estava numa parada de ônibus, sorrindo, mas não para mim, para alguém que certamente viria a ser seu marido, eu sorri também, e pela primeira vez em muito tempo pareceu ser um sorriso sincero, eu estava admirando a esperança, não a minha, mas a de alguém que muitas vezes não significou nada para mim, e eu fechei meus olhos, deixando que o ar entrasse pelos meus pulmões e explodissem cada micro-célula que existesse em meu corpo, mas apenas tornei a expirar, e o ar tornou-se mais denso a medida que os segundos se arrastavam, era noite, ela não estava mais lá, havia partido, e com uma certa vontade, eu segui em direção ao único lugar que poderia fazer-me meio vivo, um lar chamado meu.