Inverno

o inverno chegou

me agasalhou o corpo

me enrugou os dedos

deixou alma e dentes nus

arde na face, agora, a dor

e gelam

as mãos que outrora se puseram

a tremer por amor

por amor, aceito

a perda do outono na esquina daquela rua

onde inda que depois de tanto feito

nunca mais hei de ser tua

no inverno, sou meu eu mais triste

que existe

sou meu eu mais corpo geleira

sou meu eu mais alma vulcão

sou meu eu mais passarinho

carente de carinho

que, por caçar ninho,

caiu em desalinho

dentro do próprio coração