Armadura de vidro

Não deveria ter lhe escrito aquelas poesias,

não deveria ter lhe dito tudo o que estava aqui dentro,

as palavras foram jogadas ao vento de uma tempestade,

os sentimentos se perderam entre seu orgulho e minha teimosia,

os sentidos desmagnetizaram as agulhas da bússola,

não temos mais um norte para nos guiar nesse vale de montanhas,

somos estrangeiros em uma terra desconhecida,

vivendo uma existência de aparências e falsos sorrisos,

lutando pela sobrevivência no individualismo dos dias,

tentando não pensar no que poderia ter acontecido de diferente,

escrevendo The End na terra batida sem ter certeza do caminho,

lembrando de despedidas, lágrimas e discussões de outrora,

tudo no descompasso de frequências dissonantes em uma melodia...

.

Não deveria ter lhe feito aqueles desenhos,

não deveria ter lhe aberto as portas do meu interior,

as imagens foram lançadas as ondas revoltas de um mar em fúria,

os momentos de leveza e ternura foram soterrados pela mágoa,

o fogo queimou os mapas que continham a rota para casa,

não temos mais um lugar para onde voltar na cidade ou no campo,

somos viajantes exilados em ilhas de nós mesmos,

consumindo nossas almas entre dor e pesadelos,

buscando assistir mais um pôr do sol ao cair de uma noite fria,

evitando o ressoar de memórias de um tempo de carinho e risos,

gravando HATE em uma rocha na insegurança da armadura de vidro,

lembrando de mentiras proferidas, castigos prolongados,

tudo no reflexo destoante de um espelho em mil pedaços...