Náufraga
Amar
é trair a lei da sobrevivência.
É dar-se sem medidas e
consequências
É o ponto cego da ilusão imanente
Que jaz dentro de nós…
Desde do leito materno,
Ao leito de morte
Nos infinitos acabados em nós
Em todos gestos e lágrimas
Amar é
contrariar as expectativas egoísticas
as previsões de mau tempo
As chuvas malsãs que devastam tudo
Lixiviação da identidade, do histórico
E a índole que tende a autopreservar-se…
As vezes só queremos
nos defender de nós mesmos.
Amar é jogar-se no abismo
De braços abertos e olhos fechados.
No abismo liquifeito de sentimentos e percepções
Em pleno calendoscópio de emoções,
Palavras e reticências…
Amar as vezes é ter o único silêncio de
todas as palavras.
Amar não é uma capacidade
É uma circunstância inata da humanidade
Amar e desamar
Em silogismo dinâmico e ilógico.
Amar é amanhecer no inferno
Fazendo poesias sobre o fogo e enxofre.
Amar é ter no horizonte
O outro que é mistério, mas é norte
O outro que é diverso, mas que é mesmo
O outro que é horizonte, mas é porto.
Corto minhas amarras
Jogo navios e naus a imensidão dos oceanos
E na água salgada
Faço depurar a lágrima náufraga de amor.