Náufraga

Amar

é trair a lei da sobrevivência.

É dar-se sem medidas e

consequências

É o ponto cego da ilusão imanente

Que jaz dentro de nós…

Desde do leito materno,

Ao leito de morte

Nos infinitos acabados em nós

Em todos gestos e lágrimas

Amar é

contrariar as expectativas egoísticas

as previsões de mau tempo

As chuvas malsãs que devastam tudo

Lixiviação da identidade, do histórico

E a índole que tende a autopreservar-se…

As vezes só queremos

nos defender de nós mesmos.

Amar é jogar-se no abismo

De braços abertos e olhos fechados.

No abismo liquifeito de sentimentos e percepções

Em pleno calendoscópio de emoções,

Palavras e reticências…

Amar as vezes é ter o único silêncio de

todas as palavras.

Amar não é uma capacidade

É uma circunstância inata da humanidade

Amar e desamar

Em silogismo dinâmico e ilógico.

Amar é amanhecer no inferno

Fazendo poesias sobre o fogo e enxofre.

Amar é ter no horizonte

O outro que é mistério, mas é norte

O outro que é diverso, mas que é mesmo

O outro que é horizonte, mas é porto.

Corto minhas amarras

Jogo navios e naus a imensidão dos oceanos

E na água salgada

Faço depurar a lágrima náufraga de amor.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 02/05/2012
Código do texto: T3645195
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