31 de Dezembro

Os passos tristes caminham pelas calçadas mortas.

O rebotalho do que sobrou, do que ficou no passado.

Fechadas, janelas e portas,

Onde nelas entraram os raios de sol, as flores e o amado.

As inóspitas verdades acalentadas pelas tortas

Árvores velhas, que agora respiram o meu trago.

A vizinhança se foi e a rua está vazia.

Foram todos brincar e pular na eterna fantasia.

E eu, agora iluminado pelos traços da razão,

Sinto o dilúculo do pensamento cálido.

Pouco mais vale a primeira do que a emoção,

Do que as flores e de seu hálito.

Seja aqui, na Padre Café, ou no Hindustão,

O povo cultiva o mesmo hábito:

Enquanto brandem os fogos e estalam no Litoral,

Ecoam sozinhos os prédios que a humanidade tombou, cimento e sal.

E latem as garagens...

E vibram as janelas trincadas...

E chutam as latas as vazias carruagens...

E tremem quietas as portas trancadas...

E descansam as foices nas aragens...

E, continuam quietas as covas caladas.

E na algibeira tomo o relógio,

Nostalgia, mistura de amargura e ódio.

Aqui, sozinho, na rua pálida, estou ameno a caminhar.

E de passo em passo, piso no aço

Que estala no compasso a marcar.

Passou mais um ano para o boquiaberto palhaço,

Mas para mim, são mais minutos a se contar.

Guardo na algibeira o medidor, e o que faço?

Espero que o próximo ano seja menos cansativo.

Espero ser mais alentado, lívido, e menos cativo.

Luís Clemente de Campos
Enviado por Luís Clemente de Campos em 04/04/2012
Código do texto: T3593884
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