31 de Dezembro
Os passos tristes caminham pelas calçadas mortas.
O rebotalho do que sobrou, do que ficou no passado.
Fechadas, janelas e portas,
Onde nelas entraram os raios de sol, as flores e o amado.
As inóspitas verdades acalentadas pelas tortas
Árvores velhas, que agora respiram o meu trago.
A vizinhança se foi e a rua está vazia.
Foram todos brincar e pular na eterna fantasia.
E eu, agora iluminado pelos traços da razão,
Sinto o dilúculo do pensamento cálido.
Pouco mais vale a primeira do que a emoção,
Do que as flores e de seu hálito.
Seja aqui, na Padre Café, ou no Hindustão,
O povo cultiva o mesmo hábito:
Enquanto brandem os fogos e estalam no Litoral,
Ecoam sozinhos os prédios que a humanidade tombou, cimento e sal.
E latem as garagens...
E vibram as janelas trincadas...
E chutam as latas as vazias carruagens...
E tremem quietas as portas trancadas...
E descansam as foices nas aragens...
E, continuam quietas as covas caladas.
E na algibeira tomo o relógio,
Nostalgia, mistura de amargura e ódio.
Aqui, sozinho, na rua pálida, estou ameno a caminhar.
E de passo em passo, piso no aço
Que estala no compasso a marcar.
Passou mais um ano para o boquiaberto palhaço,
Mas para mim, são mais minutos a se contar.
Guardo na algibeira o medidor, e o que faço?
Espero que o próximo ano seja menos cansativo.
Espero ser mais alentado, lívido, e menos cativo.