Teias
Persegue-me o mortal silêncio
Que rasga as tristes madrugadas
Tem sido assim desde sempre
Noites com passos lentos
Imploram a atenção do vazio
Sorvem da solidão as taças
Nos toques sutis das vidraças
Dúzias de lâmpadas acesas
Absurdo o conter dos dias
Jornais revirados na mesa
Ao lado da tela fria
Que pede as letras mortas
Para dar vida aos poemas
Ocultos atrás das portas
As cortinas entreabertas
Mostram as trevas soturnas
Na frieza dos instantes
A alma se vê delirante
Fora da órbita do amor
Triturada nas lembranças
Danças de tédio e dor
Tanto divaga a mente
Que demente se encontra
Das razões que a faz gritar
Empilha amassados sonhos
Tristonhos de amor desbotados
A fitar com o olhar molhado
Perdido no imenso breu
Saltam as lágrimas de sal
Sobram esperanças perdidas
Madrugadas que se arrastam
No meio das vias estáticas
Margeadas de melancolia
Tormenta que noite conduz
Sem saber que o Sol reluz
Persegue-me o mortal silêncio
Descortinam os mil atalhos
Desconexos pensamentos
Loucura que a vida arrebata
Nas correntes da saudade
A castigar sem piedade
Súbito adormecem as noites
Nos braços das novas manhãs
Carregam consigo agonias
De retirarem-se em silêncio
Assim amanhecem os dias
Vestem de máscaras a retina
Para o riso emprestar à rotina.
(Ana Stoppa, 02.04.2012)