Palavra bruta
E se você não tiver olhos
Nem para ver, nem para imaginar
E se você não tiver voz
Nem para falar, nem para a mímica
E se você não tiver audição
Nem para ouvir e nem para sonhar
E se você não tiver pernas
Nem para correr e nem para andar
E se lhe faltar a poesia?
O que será de nós?
Restará
o compasso vertical do pêndulo,
o tempo cruel e inexorável.
As limitações das pernas, dos ouvidos
Dos olhos e de bocas amordaçadas
Do silêncio artificial e a palavra bruta
Grudadas nas pedras, nas paisagens
E na sola do sapato.
E o tapete da alma restará encardido
De um vazio indevassável.