Derradeira cena
Não te faças estranheza
Na simples leveza
De palavras sem fim
Que tira a vida de mim
Como uma simples peça
Num velho teatro
Com um único apreciador
Vou contar um negativo amor
E tamanha essa dor
Que não tem cura
E eu aqui, morrendo, faço juras
Para qualquer santo salvador
E você me enganando
Gargalhando e expulsando
Esse rapaz sofredor
Como um desgraçado cão
Acuado na ilusão
Perdido na escuridão
Fico jogado na solidão
É tamanha a desgraça
Que nem a cachaça
Vai me livrar desse embaraço
No qual você me deixou
Tão iludido que ameaço
Me jogar do terraço
Desse velho prédio
Que por muito tempo
Você, linda, habitou
Agora perdendo a calma
Ferindo forte minha alma
Vem a triste lembrança
Das inverdades que escutei
Tão leve esperança
Que inocente acreditei
Fui tão infeliz que ainda te amei
Um amor muito mais forte
De tudo que já imaginei
E agora só desejo a morte
Para curar essa chaga
Desse triste criador
Que escreveu numa folha qualquer
Um desgraçado amor
E que nada mais apaga
Esse infeliz viver
Pra completar o trágico teatro
O personagem é outro
Que já entra em cena
E você sem demora
Abraça e beija
Já se declara
Para esse novo ator
Vai logo esquecendo
Que um dia jurou
Que seria eterno
O que deus nos guardou
E agora cansado de sonhar
Eu fico a implorar
Que um dia a cena acabe
E algum anjo quem sabe
Venha lá do alto
E possa nos juntar
Para uma nova historia
Juntos contar
Mas enquanto os santos não ouvem
Os anjos não descem
E o milagre não vem
Eu vou pegar qualquer trem
Para fugir dessa cidade
Para escapar da saudade
Que restou, aqui dentro
Bem dentro de mim
Mas espero e ainda rezo
Que essa estrada de ferro
Nunca chegue ao fim
(amos)