Acaso uma rua
Acaso um poema
(A) “ventura”
Que ninguém atura
No vazio de uma rua
Na rua da dona Ema
Escura, sem lua
Poucos versos, sem rima
Sem métrica, que cisma!
Na esquina olhos de cão observa
Do outro lado, meninos com erva
Na janela da frente, a menina sem asa
Pula, e logo circula
Para e logo se amassa
Entra em outra casa e toma pílula
Na frente do bar fechado
Na rua suja, um bêbado desmaiado
Uma moça (provavelmente) universitária
Desce do ônibus solitária
Corre para não ser roubada
Entra na casa, fica aprisionada
Com a luz apagada, tento dormir
Mas a insônia me faz rir
E aqui dentro desse quarto
Não acho nenhuma graça
E logo me farto
Dessa velha cama
Cheia de traça
Que tiram minha calma
E consomem minha alma
Puta desgraça!
(amos)