CREPÚSCULO NATALINO

GILBERTO BRAZ ALMEIDA

Sinto-me angustiado

de estar só numa tarde que morre

por dentro de mim, sem piedade,

sem aviso prévio,

afogando-me num tédio absoluto!...

As folhas das árvores sinalizam vida

e se estremecem como que a dizer um adeus

de má vontade, irritando-me,

confundindo-me, sei lá mais o quê?...

Será então a brisa natalina

a minha única companheira?

Tudo em silêncio e a tarde finda.

Tudo a morrer por dentro e ao redor.

Vivo um momento delicado e inútil.

Pra muitos foi um dia festivo:

Reuniões de família,

banquetes...

Ainda sinto impregnado no ar que respiro

um cheiro de churrasco,

um cheiro de vinho e cerveja...

Não bebi sequer uma gota de álcool,

não falei palavrões,

não blasfemei,

não falei mal do próximo,

não fui a nenhum culto religioso,

não cuidei dos animais de estimação...

Morre à tarde de um dia especial...

Para os cristãos,

o Menino de Jesus

que nasceu há mais de dois

milênios atrás,

uma vez feito homem

morreu pregado numa cruz.

Para não morrer só,

conforme as escrituras,

agonizou ao lado de dois ladrões.

A tarde morre solitária dentro de mim...

Não aparece nenhum ladrão

para roubar um segundo do meu silêncio...

Somente a brisa nas folhas das árvores

tenta amenizar minha inquietação.

Olho para o céu já pardacento,

aflito procuro encontrar,

uma estrela consoladora.

gilbapoeta
Enviado por gilbapoeta em 27/02/2012
Reeditado em 27/02/2012
Código do texto: T3523393
Classificação de conteúdo: seguro