CREPÚSCULO NATALINO
GILBERTO BRAZ ALMEIDA
Sinto-me angustiado
de estar só numa tarde que morre
por dentro de mim, sem piedade,
sem aviso prévio,
afogando-me num tédio absoluto!...
As folhas das árvores sinalizam vida
e se estremecem como que a dizer um adeus
de má vontade, irritando-me,
confundindo-me, sei lá mais o quê?...
Será então a brisa natalina
a minha única companheira?
Tudo em silêncio e a tarde finda.
Tudo a morrer por dentro e ao redor.
Vivo um momento delicado e inútil.
Pra muitos foi um dia festivo:
Reuniões de família,
banquetes...
Ainda sinto impregnado no ar que respiro
um cheiro de churrasco,
um cheiro de vinho e cerveja...
Não bebi sequer uma gota de álcool,
não falei palavrões,
não blasfemei,
não falei mal do próximo,
não fui a nenhum culto religioso,
não cuidei dos animais de estimação...
Morre à tarde de um dia especial...
Para os cristãos,
o Menino de Jesus
que nasceu há mais de dois
milênios atrás,
uma vez feito homem
morreu pregado numa cruz.
Para não morrer só,
conforme as escrituras,
agonizou ao lado de dois ladrões.
A tarde morre solitária dentro de mim...
Não aparece nenhum ladrão
para roubar um segundo do meu silêncio...
Somente a brisa nas folhas das árvores
tenta amenizar minha inquietação.
Olho para o céu já pardacento,
aflito procuro encontrar,
uma estrela consoladora.