BALADA DA SOLIDÃO
 
Quando a solidão te visitar dá-lhe guarida.
Recebe-a como se fosse uma velha amiga,
Puxa uma cadeira e serve-lhe uma bebida.
Trate-a bem como se fosse uma rapariga,
Dessas que vemos nos locais onde a vida
São gastas como moedas obtidas sem suor.
 
A solidão é voraz como uma mulher perdida,
Que é assim porque nunca lhe foi oferecida,
Um!outra forma de viver, ou coisa parecida
Onde pudesse ser bem vinda e até querida,
Sem ser vista como uma hétera apodrecida,
Que não tem moral e ama a todos sem amor.
 
Ela é como essas donas que chamamos putas
Rameiras, perdidas, vadias, reles prostitutas,
Mas que no entanto, tem uma orelha enxuta,
Para ouvir o lamento da alma tosca e bruta,
Que não tem ao seu dispor uma boa escuta,
Para dar lastro à vida e aliviar o peso da dor.   
 
A solidão é franca e jamais recorre à ironia,
Detesta a farsa que promove a falsa alegria,
Nunca se permite conviver com a hipocrisia,
Não é indiscreta, pois que sempre se anuncia
E acaba sendo de fato uma boa companhia,
Se a ilusão se perdeu e se quer novo valor.
 
Assim, que seja bem vinda a solidão amiga,
E quando ela chegar, se puder que te diga,
Porque teu coração vive sempre nesta briga;
Quer estar com alguém, mas odeia investida,
No espaço inviolável em que sempre se abriga
Essa parte que tu chamas Alma ou Eu Maior.



João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 24/02/2012
Reeditado em 24/02/2012
Código do texto: T3518013
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