Descoloração dos dias

Dizer "Oi" quando o "Adeus" está muito mais próximo,

observando o horizonte do deck de um navio, no meio do oceano,

com uma música triste dedilhada num piano solitário,

nada consola, nada indica o caminho de casa,

perdemos nossa bússola, nosso rumo, nosso norte...

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Tudo parece tão distante mesmo quando você sorri,

castelos de cartas voando na ventania de uma tarde opaca,

escritos na areia apagando-se ao debater das ondas na costa...

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Dizer "Bom dia" quando as impressões estão melancólicas,

um sol que se escondeu frente à chuva que bate na soleira da porta,

com nuvens cinzas e pesadas como pinceladas de chumbo,

nada ameniza, nada propõe uma mudança concreta,

perdemos nosso sentido, nossas sensações, nosso sentimento...

.

Tudo parece tão vazio mesmo quando você segura minha mão,

um pássaro engaiolado invejando aqueles que voam para o sul,

poemas em papel amarelado amassado em uma caixa de madeira...

.

Dizer "volte aos meus braços" quando estes se fecharam,

dramatizações de um relacionamento em um palco escuro,

com cortinas empoeiradas e um público ausente,

nada disfarça, nada retoma o início de um fim anunciado,

perdemos nosso "timing", nossa chance, nossa essência...

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Tudo parece tão deslocado mesmo quando você nega,

discos arranhados, repetindo sempre o mesmo refrão quebrado,

melodias desafinadas tornaram-se uma trilha sonóra desesperada...

.

"Não volte para casa", "não existe mais uma casa",

"não existe mais algo pelo qual lutar ou desejar",

tudo terminou, tudo se esvaiu na descoloração dos dias...