O dia em que parti...
O dia em que parti...
Deus, o dia que parti, foi o dia que da vida eu me perdi?
O dia em que parti, parti de todos e até de mim mesmo.
Sim, eu parti sem dizer adeus.
Sim, não disse adeus, porque no sofrimento não existe tempo, não existe luz: apenas e somente escuridão.
Pois, que o dia em que parti, não vi nem ao menos as feridas se abrirem, mas dor eu senti: Deus, como eu sofri!
Porque o dia em que parti não houve choro, nem velas, não houve festa, nem alegria, houve apenas dor: a minha dor.
Sim, porque no dia em que eu parti, eu deixei a mim mesmo num labirinto qualquer.
Meu corpo continua zanzando pela terra, mas a alma foi para longe, muito longe, até a onde o sol se esconde, e para onde as almas jamais voltam.
Então, eu parti...
Parti sem saber que parti...
Sim, eu sofri.
Deus, como eu sofri!
A pele rasgada se decompondo.
O coração esmagado esvaindo sangue...
Dor e mais dor...
Não, palavras não me alcançam a alma.
Não, nada alivia, nada.
Não, não há esperança, nem confiança: há somente a escuridão.
Porque o dia em que parti...
O dia em que parti foi como o dia em que cheguei: eu parti sozinho, assim como cheguei sozinho.
Não, não há sorriso, nem brilho no olhar, nem esperança.
A morte em vida me dominou.
E eu parti sem nem ao menos saber que havia partido.
Meus lábios doloridos, minhas mãos condoídas, minhas pernas paralisadas e minha pele toda chagada.
Eu perdido na escuridão.
Não há esperança, meu irmão.
Eu me perdi de vez, companheiro.
Sim, eu fui sem saber que tinha ido.
Eu me perdi sem nunca, jamais poder novamente me achar.
Deus, por onde minha alma vai andar?
Sem eu, sozinha a vagar?
Porque eu sei que a dor jamais vai passar.
Mas, Deus, deixa pelo menos esse sofrimento passar.
Sim, leva esse sofrimento para algum lugar, para que eu possa pelo menos um pouco respirar.
Sim, leva esse tormento para algum lugar, para que eu possa em paz, de uma vez por todas, descansar.
Sim, eu só quero na paz descansar.
Sim, na paz para sempre descansar.