No limiar da aurora
Liberto em mim esse amor que me vem por dentro
E silencio em meus lábios as lagrimas
Que me molham os olhos e me encharca a emoção
Que trago presa em meu peito
Cerco-me de um silencio vazio
Aguardando um sono, que não vem
Enquanto a fria aurora se aproxima
Roubando-me o alivio que a noite contém
Cerco-me de palavras sombrias
Restos de um verso que deixei de escrever
Oculto nas sombras da noite
Tão sombria quanto as sombras de um amor
Que por medo de amar, deixei de viver
Deixo então de lado os papeis e a pena
E me encanto com a aurora flamejante
A colorir de rubro o azul cintilante
Como um amor que o próprio universo encena
Desfaço-me das palavras como quem não quer aprender
Restando-me apenas pensamentos que não consigo dizer
Ou fragmentos de um sonho que não quis esquecer
Silenciando palavras e despertando sentimentos
Que nesse silencio maior, não ouso querer
Encanta-me esse silencio que o pensamento me traz
Oferecendo-me sonhos que não sonho mais
Nesses pensamentos me desfaço em sentimentos
E nos sentimentos, me recolho novamente ao silencio
E finjo que meu coração, dorme em paz
E Vivo assim, entre a noite e o dia
Repleto de nostalgia e pleno de pura alegria
No limiar da tristeza, beirando a esperança
Num mundo a que já não me pertence mais a distancia
Pois que morro a cada noite e me vejo renascer assim,
A cada dia, no limiar de cada nova aurora...
E morrer... No entardecer de cada dia...