REPLETO DE NADA...
"A verdade é feia: temos a arte a fim de que a verdade não nos mate."
(Friedrich Nietzsche)
Nem na solidão, há solidão, como todos falam.
Aquele pássaro
naquela gaiola fria, todo dia
o céu passa à sua frente,
sol ardente aquece o frio
metal daquelas grades!
Do interior da sua clausura
o pássaro cantor vê acenos;
vê o menino que corre
solto na vida todo serelepe.
menino-lobo pisando florestas...
O cantar cheio de vida
faz tremer a solidão;
que agora dança boleros
de Ravel na dura manhã
encouraçada do pássaro.
O pobre, agora louco,
faz mil viagens em torno
de si mesmo, e se perde
na imensidão do seu mundo
(encantado?) e repleto de nada.
Quantas vezes já me viram preso
numa gaiola imaginária de
grades intransponíveis?
Quantas vezes se desfizeram
sem que muita força eu fizesse?
Mas tudo ao seu tempo.
Nem na solidão, há solidão, como todos falam.