Vela apagada

A tarde surgiu e mais uma vez nada nas sms do celular,

apenas as palavras não deletadas de dias anteriores,

nenhuma mensagem na secretária eletrônica,

só o som estridente do bip esperando algum recado,

das cartas sob o vão da porta apenas contas à pagar,

nenhum envelope perfumado manuscrito,

parece que o tempo soprou tão forte o vento do esquecimento

e a vela antes tão intensa apagou-se no cair da noite...

.

A noite chegou como um cobertor que não aquece os pés,

o frio do inverno e da neve que insiste em não parar de cair,

a distância agora parece um abismo intransponível,

a solidão tomou conta da decoração do ambiente,

a tv não sintoniza mais os canais de melodias compartilhadas,

o rádio só toca a estática da tempestade de gelo,

e a vela na janela que seria o farol para os perdidos na noite

tornou-se um pavio apagado no triste lamento cinza...

.

A manhã não trouxe alento à angustia insône,

olhos lacrimejando sem sono, cansados de nada encontrar,

lágrimas deslizando como esquiadores percorrendo montanhas,

soluços silenciosos encolhidos na velha cadeira de balanço,

mais um dia sem sol no horizonte de nuvens permanentes,

questionando-se quando deixou-se de ser a exceção e virou a regra,

quando a chama da vela esvaiu-se na escuridão,

engolida por promessas postas de lado no decorrer do caminho...