Rosto de Vidro
Guardei os meus punhos cerrados
Sob as mangas de minhas dúvidas
Sob as pálpebras de um olho ferido
Como um frágil espelho de vidro
Rejeitei o meu rosto quebrado
Estranhos e frios são meus passos
Se fazem ouvir entre as tumbas
Sussurrantes, os pés andarilhos
Elegante marchante acabado
Talvez louco, cansado e errante
Entre um ermo de arbustos esparsos
Entre sebes noturnas, cobertas de brumas
Levanto a voz em um brado:
'Ouçam os montes e os seus viajantes:
Não ousem seguir os meus passos.
Deixe que o tempo e suas constantes
Separem os nossos espaços."
Direi à solidão que me acompanhe
Que possa guiar-me entre os montes
Que afaste-me todos os homens
E as suas mentiras marcadas
E ao fim de toda a jornada
Eu possa encontrar-me em honra
A erguer meu olhar triunfante
A cantar o meu hino velado
Abri os meus punhos feridos
Sob as bordas de minhas túnicas
Sob os olhos agora cerrados
Relembrei o espelho quebrado
Revelei o meu rosto de vidro