A carta

Eu devia lhe escrever

Assim tão copiosamente

Tal qual quando choro

Em que o tempo sorve as

lágrimas em labaredas,

A queimar meu rosto em sofrimento

Eu devia lhe contar a sua estória,

sua origem,

Como nasceu, como cresceu

E, pior como você efetivamente

Veio a morrer em plena convivência

de nossos dias.

Morte contemporânea

e errante.

Choro em pensar na carta,

Na letra calígrafa contornando

a agonia como uma dançarina de sete véus

E, ao abandonar o sétimo véu

Num devaneio dúbio e cruel

Suspeito da poesia,

Desconfio da rima e da prosa

E ainda brigo com a vírgula

Pois é quer sintonizar a parábola

perdida de um dia infeliz.

Quer modular a metáfora,

Quer ser metafísica

Enquanto eu, só quero

lhe escrever uma carta,

Um telegrama ou um sms

Para torpedear sua alma de culpa

E conseguir lhe ver novamente

Em meus umbrais de esquecimento.

A carta que não escrevi

A palavra que não pronunciei

A culpa que não causei

Tramaram juntas a solidão fecunda

E agora que estou em silêncio de

monastério...

Rezo para que seja feliz

Sem minha mensagem e permaneça com

a boa e velha dúvida:

Valeu a pena?

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 27/01/2012
Código do texto: T3463995
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