Fora do comum.

Dessa vez eu resolvi agir diferente. Sempre que uma nova decepção batia na minha porta, eu reagia com fúria, fúria contra mim mesmo. Como se me machucando, eu estivesse automaticamente machucando aquele me machucou. Como se deixando de comer, faltando à academia, me trancando no quarto e dormindo o máximo que conseguisse fosse mudar os fatos. Nada vai me fazer voltar há dois atrás, deitar na cama dele e ouvir uma frase diferente da que foi dita. Se dói? É claro. No dia seguinte, eu me vi desesperado, como se nunca tivesse passado por algo parecido antes. A verdade é que não, nunca tinha passado. Livrei-me de uma dor futura, e isso é bom, preciso me focar nisso. Levei um soco no estômago antes mesmo de balbuciar qualquer palavra. Bem, a verdade é que agora posso adicionar esse item na minha lista de relacionamentos fracassados. É uma história nova a ser escrita, como estou fazendo agora. Não foi em vão, mas se eu soubesse o que aconteceria, provavelmente não teria ligado o carro e dirigido por meia hora durante a madrugada de domingo, para que ao chegar no meu destino, ele dissesse: “tira o sapato” e em pouco menos de cinco minutos, ele fechasse a porta me desejando boa noite. Dessa vez eu resolvi não cair na paranoia de achar que o erro está comigo. O erro também não está nele. Não há culpa a ser colocada. Não há mágoa a ser guardada. Só há uma coisa a ser feita. Se eu pudesse voltar ao momento no qual eu colocava meus sapatos de volta, eu diria o olhando deitado na cama: "Vou esquecer - eu diria enquanto entrelaçava os cadarços do sapato – e continuar vivendo normalmente, como se você fosse um buraco na estrada, um buraco com um enorme letreiro me avisando para desviar. E eu desviei, obrigado. E dependendo da velocidade, daqui um ou dois dias, eu vou olhar pelo retrovisor e você não vai estar mais lá, vai ter passado, será completamente – dou o último nó antes de me levantar e ir embora – esquecido."