::: FALANDO COM A MORTE :::
FALANDO COM A MORTE.
A imensa chama púrpura e o fétido sangue carmesim
Transbordam no meu corpo putrefato
A petrificação de uma alma indignada.
Ao pensar conjuro perseguições e instauro guerras.
As úlceras lacrimais
Jorram excrementos mortais
De uma alma esquecida no tormento da inquietude.
Na sarjeta dos meus romances adormecidos
A melancolia nostálgica insurge
Nos cantos emudecidos da solidão
E nas onomatopeias ignóbeis.
Esta poesia não falará de rosas ou dos impávidos olhos dela.
Nem ouso chamar de poesia!
Se sou um canto, estou mudo.
Eu, um pintor cego, ponho linhas reais
Deste mundo ilógico e cruel.
Assenta-te, vil mortal, ao clero corrupto
E legisle no senado leigo ou julgue no judiciário ilusório
As dores que todos nós temos!
Nesta madrugada não tenha romances ou fábulas de princesas.
Tenho tão somente
Um poeta sobejado de vinho,
Deitado no chão e olhando as estrelas.
Contando os sonhos desraigados, a fé enfraquecida e o amor doente...
- Que vil existência deste-me!
Penso e praguejo indolentemente.
Morte, alento dos loucos, seduz inutilmente.
Não precisa chamar-me quando cada respiração me leva a ela.
Morte, alento dos covardes e cansados;
Berço da noite, repouso das chagas e temor da condenação.
Casa das caveiras e das meditações.
Tu és a morte e o cemitério o teu templo.
A vida, porém, o teu alvo.
Contigo ao meu lado discorro e interpolo:
- Dê-me vida!
Fujo e caio no antagonismo anacrônico
De quem busca a vida estando morto.
Meu corpo envelhece e adoece em cada sopro.
O que eu sou?
- Sou um sopro de vida...
Por isso sou breve.
Por isso choro, rio, amo e odeio tão rapidamente.
E, por isso, na minha inconstância,
Tudo que quero é escrever sobre os olhos “dela”...
Autor: Ygor Pierry
SP 15/01/2012