Madrugada de domingo
Na madrugada de domingo, o tempo é morto
O espaço da sala neutro, os móveis indiferentes,
Esquecidos de si, em si, de mim.
Na madrugada de domingo, o ar pesa.
Ele pouco se move: anulação do sentido do olfato.
A pouca luz, iluminação preguiçosa ameaça a visão.
Na madrugada de domingo, não é preciso contar
Que a falta do que ouvir, do que tocar, do que provar,
Quando em sucessão, é a contagem regressiva
De tornar-me, eu mesmo, uma madrugada de domingo.
Nessas horas, já não há mais horas. Já não há mais ninguém,
Já não há mais esse alguém que responde pelo meu nome.
Mas e isso que nessa madrugada impregna? O que é isso que vê
nessa madrugada a brecha para contaminar minha semana?