Paralelepípedo
Em uma rua de paralelepípedos desfalcados há uma casa.
Em frente, outra. Ao lado, outra.
Sentei aquela noite, como de costume, nos degraus da entrada.
Levava um livro. Lia-o desapercebidamente.
Nuvens e estrelas estrábicas são os únicos ornamentos – simples.
Achava-me a espera do recital diário de uma senhora desconhecida – uma vizinha.
É ele – o som do piano. Desta vez, calou-se e não deu notícias.
Em uma rua de paralelepípedos desalinhados havia uma senhora desconhecida – a melodia feneceu misteriosamente, quedou-se.
Em uma rua havia uma pedra – desajustada, desconhecida – sobre a qual todos caminhavam.
E assim somos pedra em alguma rua de paralelepípedos – desfalcados, desalinhados e desconhecidos.