Paralelepípedo

Em uma rua de paralelepípedos desfalcados há uma casa.

Em frente, outra. Ao lado, outra.

Sentei aquela noite, como de costume, nos degraus da entrada.

Levava um livro. Lia-o desapercebidamente.

Nuvens e estrelas estrábicas são os únicos ornamentos – simples.

Achava-me a espera do recital diário de uma senhora desconhecida – uma vizinha.

É ele – o som do piano. Desta vez, calou-se e não deu notícias.

Em uma rua de paralelepípedos desalinhados havia uma senhora desconhecida – a melodia feneceu misteriosamente, quedou-se.

Em uma rua havia uma pedra – desajustada, desconhecida – sobre a qual todos caminhavam.

E assim somos pedra em alguma rua de paralelepípedos – desfalcados, desalinhados e desconhecidos.

Gabriel Furquim
Enviado por Gabriel Furquim em 28/12/2011
Código do texto: T3411202
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.